domingo, 3 de junho de 2012

Gone Girl, Gillian Flynn




Na manhã do seu aniversário de 5 anos de casamento a mulher de Nick desaparece. A polícia imediatamente suspeita dele, afinal o marido é sempre o culpado. Ou não?

Ao longo deste thriller incomum vamos trocando a perspectiva em primeira pessoa de Nick com trechos de um suposto diário de Amy, que contam histórias bem diferentes do que foi o casamento dos dois. A verdade é que nenhum dos dois esposos parece ter uma opinião muito alta do outro.

Tanto Nick quanto Amy são personagens destestáveis, o tipo de pessoa que se você encontra numa festa alega até um piriri brutal para ter uma desculpa para sair de perto. Exatamente por isso o livro é tão bom, mesmo sem ter a menor empatia com os dois você vai querer saber o que está acontecendo.

Contado em um passo rápido bem amarrado e com um texto muitas vezes hilariante, Gone Girl é um livro difícil de largar. A premissa e o desenvolvimento da história são originais para um thriller, um alívio entre tantos livros de detetives e cientistas forenses perseguindo serial killers extravagantes.

Como o livro tem algumas reviravoltas importantes acho melhor não entrar em muitos detalhes para não estragar a graça da leitura. Posso dizer que o final me decepcionou um pouco, parece que depois de um desenvolvimento muito bom a autora se cansou e resolveu terminar logo com a história. Mesmo assim, não foi um desfecho óbvio, o que é bom, e a leitura até lá foi ótima, o que é melhor ainda.

Ainda sem tradução no Brasil.

Wonder, R.J. Palatio




Wonder seria uma história simples de um menino que começa o ensino médio, se o protagonista do livro não fosse tão peculiar. Augustos se descreve como um menino comum, ordinário até. Ele gosta de jogar videogames, tomar sorvete, é fanático por Star Wars e tem uma família amorosa como em um comercial de Doriana. Porém, Augustus nasceu com com uma deformação severa no rosto. Logo no primeiro capítulo ele diz "não vou tentar descrever a minha aparência, o que quer que você estiver imaginando, pode ter certeza de que é pior."

Contado em primeira pessoa com diferentes point of view characters (mais uma expressão que não sei dizer em português) Wonder acompanha o primeiro ano de Augustus em uma escola, as dificuldades óbvias que tem, os amigos que faz e como acaba tocando a vida de todos ao seu redor.


Alguns aspectos da realidade de Augustus foram trabalhados com um cuidado especial. Este não é um tema fácil de se abordar e acho que a autora merece um tapinha nas costas por ter se inserido no dia a dia de uma criança com uma condição tão difícil. Augustus sabe do impacto que seu rosto tem nos outros e toda vez que passa por interações com novas pessoas espera os olhares de susto e pena que recebe com reações que variam do estoicismo para a irritação e frustação. É uma situação em que a maioria das pessoas nunca estará e só por esse exercício de empatia, a leitura já compensa.


Dito isso, achei o desenvolvimento raso: todo mundo é muito bonzinho, todo mundo aprende uma grande lição de vida no final. A família de Augustos é linda, amorosa, engraça, funcional, tão doce que dá ânsia de vômito. E a autora usa uns subterfúgios baixos para arrancar emoções do leitor. Sabe aqueles filmes em que o velhinho desencantado com a vida descobre que tem uma doença terminal e reencontra a felicidade só para morrer no final? E aqueles em que o cachorro morre? Mas que todo mundo aprende alguma coisa e aprecia mais a vida depois? Então, é isso aí.


Eu achei uma pena, porque é um tema corajoso, e já que a autora tinha posto o dedinho na lama, que custava enfiar o pé inteiro? 


No final uma boa leitura, que poderia ter sido bem mais desafiadora e interessante, mas que ainda vale a pena para adultos, e que será particularmente interessante para pré-adolescentes.


Ainda sem tradução no Brasil.