terça-feira, 29 de maio de 2012

Bring up the bodies, Hilary Mantel



Bring up the bodies é a continuação de Wolf Hall, romance que deu o Booker Prize de 2009 para Hillary Mantel.

Os livros são uma biografia romantizada de  Thomas Cromwell, estadista brilhante de Henrique VIII, aquele das seis mulheres. Cromwell era um homem de origens humildes, que se tornou uma das pessoas mais poderosos da Inglaterra Renascentista, e o cérebro por traz de boa parte do reinado de Henrique.

 Wolf Hall cobre desde a infância de Cromwell até a dissolução do casamento de Henrique com sua primeira esposa, Catarina de Aragão. Cormwell é a mente legal por trás da manobra, ele separa a Igreja da Inglaterra do Vaticano, o que coloca Henrique como chefe supremo da Igreja Anglicana (até hoje o manarca inglês é também o chefe da igreja) e transfere todas as posses do vaticano para a coroa inglesa. Com isso Henrique fica livre para se casar com Ana Bolena e consideravelmente mais rico. É a chegada de Cromwell ao ápice do poder.

Bring up the Bodies retoma a história exatamente do ponto onde Wolf Hall a deixou, e acompanha a queda e execução de Anna Bolena, também orquestradas por Cromwell.

Cromwell (que seria executado por Henrique VIII em 1540) entrou para a história como um manipulador frio e um homem brutal. Nos seus livros, Mantel (apoiada por uma longa e cuidadosa pesquisa) apresenta uma outra interpretação de quem era Thomas Cromwell, mostrando um homem de origens simples que subiu ao cargo mais alto de poder durante o reinado de Henrique VIII armado apenas de um intelecto superior. 

Filho de um ferreiro, ele foi soldado, comerciante de tecidos, banqueiro e político genial. Uma pessoa inteligente e sagaz, constantemente ameaçada pela nobreza que cerca o Rei. Para a mentalidade da época é inconcebivel que o filho de um ferreiro de Putney possa lidar com assuntos de estado.

Um dos grandes prazeres desta série é a capacidade de Mantel de fazer de Cromwell um homem do século XVI que funciona dentro da mentalidade do período. Talvez um dos aspectos mais irritantes da ficção histórica seja ver um personagem com as inclinações e mentalidade do século XXI Andando de meias calças no século XV.

E o Cromwell de Mantel é uma figura cativante. Um pouco melancólico, cuidadoso de sua família e amigos, brilhante e espirituoso. Em tudo menos no título superior aos nobre com quem batalha seu lugar na corte.

Tão cativante é Cromwell, que demora um tempo para cair a ficha de que ele também é um homem brutal, que não esquece ofensas e que vai sistematicamente destruindo todos os que ficaram em seu caminho. E destruição na inglaterra renascentista não é um pouco de difamação na internet. É morte, possivelmente prescedida de tortura horrível.

A prosa de Mantel é pra dizer o mínimo incomum. Ao invés da narração em primeira pessoa (que talvez fosse a opção mais lógica para um livro tão pessoal) ela se mantém na terceira pessoa, porém nunca abandona Cromwell por um outro ponto de vista. Estamos sempre com ele, acompanhando seus pensamentos, reflexões, estratemas.

Essa narração em terceira pessoa aumenta a sensação de isolamento do personagem. Vemos essa mente brilhante, que não tem com quem se dividir, nem mesmo do leitor ele pode esperar simpatia. Mantel cria um névoa  melancólica em torno de seu protagonista. Ele nunca está completamente satisfeito, ele sabe o quanto sua situação é instável, dependendo apenas da boa vontade do rei para manter sua posição e talvez possa até antever sua queda inevitável.

Este é um daqueles livros em que a prosa é tão lírica que é um prazer em si, mas que também requer atenção. Um livro que exige a concentração e entrega total do leitor, senão você se pega voltando para o começo da página para entender o que está acontecendo. Dito isso, Mantel criou ou desenterrou um personagem impagável. Quando eu chegar ao final do terceiro livro (ela vai lançar mais um sobre a queda de Cromwell) acho que vou passar por um longo luto, para dizer adeus ao meu personagem favorito de qualquer romance histórico.

Wolf Hall e Bring up the Bodies ainda sem tradução no Brasil.

Falha minha, Wolf Hall foi publicado pela Record no Brasil, com tradução de Heloisa Mourão.

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